domingo, 11 de outubro de 2009

Quais Conseqüências Traz a Postura Docente Sobre os Alunos?

Quais Conseqüências Traz a Postura Docente Sobre os Alunos?
Eliane Casagrande Tadioto


RESUMO
Este trabalho foi apresentado ao Curso de Pedagogia, Modalidade Licenciatura, para os anos iniciais do Ensino Fundamental, ao Núcleo de Educação Aberta e a Distância do Instituo de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte integrante do processo avaliativo da Área de Matemática.

INTRODUÇÃO
Nos tempos atuais, fala-se muito da atuação do professor em sala de aula. Muitos profissionais, mesmo sabendo que a sua forma de trabalho e postura em sala de aula podem acarretar conseqüências positivas ou negativas sobre seus alunos, ainda assim, se impõem sobre esses alunos de forma autoritarista. Eles não sabem que as conseqüências sobre os alunos são desastrosas, pois, a maioria deles acaba por odiar o professor, a matéria e, conseqüentemente, a escola na qual estuda.
Quando o professor assume uma postura autoritária, vê-se desfazer no aluno toda a capacidade de criação, de interação, de construção do próprio conhecimento, de levantar e comprovar hipóteses, bem como toda sua autonomia em relação aos desafios propostos. O aluno torna-se um expectador e assiste às aulas, ministradas pelo mestre supremo, como se fosse um filme, no qual o roteiro já está escrito e não pode ser mudado.
Um dos maiores desafios com o qual a escola se defronta nos dias de hoje, é o de resolver de forma efetiva, uma de suas principais metas: a de propiciar aos alunos a possibilidade de realizar algo que ainda não tenha sido feito, a de estimular a capacidade criadora dos alunos.
O modo tradicional como alguns professores se apresentam, remete ao papel da escola, a transmissão do conhecimento elaborado, visando repassar ao aluno os conhecimentos e valores acumulados pelas gerações e repassadas como verdades. Os conteúdos trabalhados por esses professores, são separados da experiência do aluno e das realidades sociais nas quais eles participam.
O método de ensino tradicionalista se baseia na exposição verbal da matéria (aula expositiva de conteúdos), na qual tanto a exposição quanto a análise são feitas pelo professor, ou seja, este expõe o conteúdo já pronto aos alunos considerando que todos são iguais, ou seja, não consideram a diversidade intelectual dos saberes existentes dentro das salas de aula.
No relacionamento desse professor com o seu aluno, predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida. Em conseqüência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio.
Sabemos que a finalidade principal da escola é a de fazer do aluno um ser pensante e atuante na sociedade na qual está inserido. Que crie condições para que esse aluno seja autônomo quanto a construção do seu conhecimento.
Ao longo da interação professor/aluno, cabe ao primeiro mediar e ajudar o aluno na tarefa de aprender possibilitando-lhe pensar com autonomia. Para aprender, o aluno precisa ter ao seu lado alguém que o perceba nos diferentes momentos da situação de aprendizagem e que lhe ajude a evoluir durante o processo de ensino e aprendizagem, de forma a alcançar níveis os mais elevados possíveis de conhecimento.
A escola almejada por todos, visa despertar no aluno, a possibilidade de trabalhar pela democratização em todos os setores da sociedade. Assim, a educação denominada crítica, busca a luta pela transformação da sociedade, numa perspectiva de sua democratização efetiva e concreta, atingindo os aspectos políticos, sociais e econômicos.
O profissional docente tem que agir como facilitador ou mediador entre o conhecimento e o aluno. Cabe, a escola contribuir para que se elimine a seletividade social e torne a educação democrática. Agindo dessa forma estaremos contribuindo para tornar os alunos seres conscientes, pensantes e atuantes dentro da sociedade na qual participam.
Nesse contexto, trazemos para discussão: quais são as conseqüências da postura autoritarista do professor em sala sobre os alunos, porque entendemos que o papel docente pode contribuir favoravelmente ou não para que se forma um cidadão crítico.

QUAIS CONSEQÜÊNCIAS TRAZ A POSTURA DOCENTE AUTORITARISTA SOBRE OS ALUNOS?
O professor não deve ser autoritário nem alienado em sala de aula. Deve ser sujeito, ser amigo dos alunos, compreensivo e companheiro, deve ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção do conhecimento no seu aluno, agindo como agente entre os objetos do saber e a aprendizagem. Deve ser para o aluno seu decifrador de códigos e receptor de muitas linguagens.
Um professor que desempenha sua prática autoritariamente influencia sua classe à indisciplina, pois sua prática não permita aos alunos, oportunidades plenas para o seu desenvolvimento cognitivo, não permite que ele estabeleça relações entre a experiência vivenciada por ele com a teoria ensinada na escola, ou seja, ele não consegue construir o conhecimento de forma significativa. Essa prática docente não oferece condições aos alunos para que eles despertem suas potencialidades, a fim de alcançarem sua auto-realização, preparação para o trabalho e exercício da cidadania.
A idéia de professores autoritários, que agem de modo tradicionalista, em sala de aula está inserida na mentalidade dos pais, porque ocorre aos pais que os docentes têm que se ocupar com uma classe silenciosa, com os alunos calados e sentados um atrás do outro e mantendo-se longe dos professores.
Nos dias de hoje o professor tem a função de educar para o convívio familiar, além do social, conforme afirma Içami Tiba, sobre a responsabilidade que está nos ombros dos professores: “Os professores não foram capacitados para essa nova função em seus cursos de formação. Existe um descompasso entre essa capacidade e a solicitação dos pais em relação à educação dos seus filhos”, (p. 15, 1998).


Os modelos tradicionais de ensino, que modelam o professor autoritarista geram nos alunos, violência e revolta, desenvolvidas pelas pressões e frustrações inerentes a escola tradicional, sem contar que não há aprendizagem com significação quando o professor é autoritário, pois, conforme afirma Lima (p. 56, 2003):

 “[...] este não dá oportunidade de seus alunos se expressarem, pois eles são adestrados e treinados para ocuparem um único lugar na sociedade, o de servos fiéis do sistema”.

É sabido que não é interessante para a cúpula política, que tenhamos cidadãos autônomos, que lutem por seus direitos exercendo a cidadania. Cabe então a escola, no papel de educadora autoritarista, reprodutora de um modelo condicionante, o de fazer com que esses futuros cidadãos, sejam adestrados desde pequenos para obedecerem ao sistema.


Quem é o professor autoritarista? Conforme nos afirma Antunes (p. 57, 2002):



[...] é aquele que entra na sala de aula acreditando que é o único conhecedor da verdade, despeja a matéria sem se preocupar com o que aluno já conhece sobre o assunto. Esse tipo de docente parece uma cascata de conhecimentos, não se preocupa como o aluno interpreta a informação que ele passa, ou seja, de que forma a afirmação chega até o aluno, pois, ele ignora o conhecimento de mundo que o aluno traz consigo. Ele trata a turma como se todos os alunos tivessem a mesma facilidade de aprender, ele não respeita a individualidade dos seus alunos, que faz com que nem todos aprendam da mesma maneira.


Esse professor é metódico, e com ele não acontece interação professor/aluno. A turma que está inserida nesse contexto rende muito mal, pois as crianças submetem-se a violência desse professor que julga ter autoridade.
O sistema educacional que ainda adotamos é fruto de escolas antigas: a estrutura escolar é a mesma, e a postura do professor também. Queremos que nossas crianças, futuros cidadãos, sejam ativos, participativos, atuantes na sociedade. Desempenhando seu papel social com criticidade e responsabilidade.
Professores e professoras: Como conseguiremos fazer do nosso aluno um cidadão ativo, se o obrigamos a sentar 4 (quatro) horas (ou mais) a nos ouvir sem interrupções? Como queremos que lute por seus direitos, se quando ele ergue a mão para nos questionar ou mesmo colocar suas idéias, mandamos que ele se cale? Como poderemos ajudá-lo a brigar contra as injustiças sociais se temos medo ou vergonha de falar sobre o preconceito em sala de aula? E como serão pessoas totalmente realizadas se a escola é para elas um castigo, uma obrigação imposta pela sociedade? O que realmente deve ser mudada é a postura docente frente aos alunos.
A nós, professores e professoras, portanto, cabe contribuir para que nossos alunos imaginem, criem, analisem, inventem, para que realmente se efetive nele uma aprendizagem de qualidade. Que venha a formar um cidadão que não tenha medo de se colocar diante de uma situação que não lhe é satisfatória, criticando, opinando, se impondo.
Percebe-se, que todos os fundamentos da aprendizagem significativa e do ensino construtivista, chegam a um ponto comum: é impossível ao professor ensinar ao aluno sem resgatar os saberes e valores que estes trazem de casa. Para que este ato se concretize, é indispensável ao professor escutar seus alunos, e é indispensável ao aluno que fale ao seu professor e a seus colegas.
Quando o professor em sala de aula se coloca como autoritário, e coroa-se o rei do saber, não deixando seus alunos falarem, mantendo-os sentados em fila e copiando o conteúdo, o aluno torna-se um ser passivo, sem reação, ou muitas vezes, essa situação o leva à indisciplina.
O aluno sente-se preso, sem poder opinar e falar sobre o que pensa a respeito do assunto em pauta. É sempre mandado ficar em silêncio para não atrapalhar a aula exposta pelo professor. Isso gera no aluno uma vontade incontrolável de se rebelar, de chamar a atenção de algum modo, para que o professor acorde e o deixe falar, expressar-se, e quando não consegue a atenção necessária, acaba adquirindo problemas de indisciplina.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devemos lembrar que autoridade e autoritarismo são palavras distintas. Devemos ter autoridade em nossa sala de aula, mas não sermos autoritários. Devemos ter firmeza ao falar com nossos alunos, mas também doçura em nossas palavras.
Lembramos aqui, que para um pleno desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, o aluno deve ser levado a criar situações, opinar sobre um tema, construir hipóteses, defender sua opinião. Mas isso não significa que o professor deve deixar o aluno fazer tudo o que quiser. Ser amigo dos alunos, compreensivo e companheiro, não significa deixar o aluno “a Deus dará”, agindo como um professor bonzinho, manipulável.
As conseqüências que a postura docente autoritarista traz sobre os alunos são: a indisciplina, a insegurança e a timidez. Portanto, nós, professores e professoras, devemos ter a consciência de que o nosso trabalho docente em sala de aula pode construir para a formar cidadãos participativos e críticos; ou de aniquilar, ou seja, contribuir para que a sociedade tenha um cidadão passivo e não ativo diante de uma sociedade, que muitas vezes, é desigual para com seus participantes.
Finalizamos ratificando que o trabalho docente deve estar direcionado para que o aluno seja um ser resiliense, ou seja, que não cede frente às injustiças sociais. E nas frases citadas por Lima (p. 67 2003), que retrata a ação de educar de forma marcante para nós que somos profissionais incumbidos dessa missão: “[...] é flexibilizar para o inesperado, pois, assim será o porvir. É criar coragem para ousar decidir e solucionar, pois, assim exige o viver. E é ter paciência com a inconstância, pois, esta é a marca registrada da vida.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Celso. Professor bonzinho = aluno difícil. A questão da indisciplina em sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes 2002.
LIMA, Reginaldo Naves de Souza. Contactos Matemáticos do Primeiro Grau: ações matemáticas que educam. Fascículo 1. Cuiabá, MT: EdUFMT, 2003.

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